domingo

Bike Trip 1 - Novembro 2002


1ª Viagem de Bicicleta
Curitiba / PR - Capao da Canoa / RS - 656 km

Tudo começou há muito tempo atrás quando li em uma revista a viagem feita por dois guris. Por muito tempo tive vontade, até que comecei a planejar a viagem...
Eu estaria de férias coletivas na empresa e sabia que não teria a companhia da minha esposa para tirar férias, então resolvi planejar as férias individuais.

Preparação para a viagem:
O destino foi fácil de escolher: como sou de Montenegro, RS e morava há 5 anos em Curitiba, PR a escolha foi ir até Montenegro, pesou na escolha o fato do trajeto ser movimentado, ter postos de gasolina para qualquer emergência, a cobertura do celular, e também ser um trajeto conhecido.
Desde a idéia desta viagem até o dia da partida eu teria 48 dias. Eu planejei pedalar em dias alternados começando com 10 e chegando até 100 km/dia, que era meu objetivo de distância por dia durante a viagem. Do planejado de 780 km em treinamento eu atingi 490 km no total, sendo a maior distância de 57 km.

A bicicleta:

Muitos não vão conhecer, mas a bicicleta que eu usei foi uma Caloi Cruiser Extra Light 18 marchas. Para quem não se lembra, era uma Mountain bike aro 27", quadro de aço e com todos os componentes de alumínio, exatamente iguais aos da Caloi Cross Extra Light. Era uma bicicleta famosa e cara que foi fabricada lá pelos anos 80. Pesada, mas confiável e resistente. Esta não era minha, estava emprestada já há 4 anos do meu cunhado Pescoço. Como o destino da viagem era Montenegro, RS, eu já queria aproveitar e devolvê-la para ele. Só o que fiz nela foi uma revisão antes da partida onde também comprei cabos e câmaras reserva e instalei duas caramanholas.

O que levei:
- cuecas
- meias
- camisetas
- kit de higiene pessoal: desodorante, sabonete, xampú
- 1 agasalho
- 1 camiseta de manga comprida
- 1 capa de chuva que ganhei de brinde que foi muito útil (estas de R$1,99).
- bermudas (Como ainda era contra as bermudas de ciclismo viajei com uma bermuda “de brim” (jeans ). Na outra viajem resolvi experimentar uma de lycra e me arrependi de não ter usado já nesta viagem.)
- barraca
- saco de dormir
- máquina fotográfica com timer e tripé, (na época não era digital, era com filmes)
- remédios
-protetor solar
- ciclocomputador
- ferramentas
- bomba para pneu
- muitas barrinhas de cereias
- garrafinhas de água
- capacete
- luvas
- kit de reparo de câmaras
- 3 câmaras reserva,
- GPS,
- lantera,
- pilhas,
- walk-man, fitas K7 (uma versão antiga do MP3)
Como era verão a bagagem ficou reduzida. Carreguei tudo num alforge de couro que tinha da minha moto. Sobre o bagageiro iam a barraca e o saco de dormir enrolados e presos por extensores. Tudo isto ensacado com sacos de lixo devido à chuva. A barraca não chegou a ser usada, mas somente a sua presença já nos deixa despreocupado no caso de não achar onde dormir.

Joelhos...

Durante os dois primeiros dias de treinamento começei a sentir uma dor no joelho direito que me deixou com medo de ter que desistir da viagem. Fui na Clínica do Joelho, aqui em Curitiba, especializada em medicina esportiva e para minha felicidade o Médico me falou que meu problema era só falta de alongamento. Com 10 dias de fisioterapia para aprender a alongar ficou tudo resolvido. Dalí em diante sempre alongava e as dores sumiram. Esta lição também serviu para ajudar no planejamento de como seriam os meus dias de viagem.

Como planejei a viagem:

Eu teria 12 dias para fazer os 840 km entre Curitiba e Montenegro, e ainda precisava ter um dia para descanso e voltar para Curitiba.
Fiz a conta:
- 8 dias de pedalada
- 1 dia de descanso em Capão da Canoa
- 2 de descanso em Montenegro
- 1 dia para retorno.

Isto daria em torno de 100 km/dia.

Ainda não sabia se conseguiria fazer estes 100 km por dia, e ainda mais repetir isto por vários dias, mas vamos lá...
Devido a esta distância grande por dia, decidi por dormir sempre em hotéis em vez de acampar, o fato de não ter que perder tempo com montagem e desmontagem da barraca permite que se descanse por mais tempo, e ainda existe a vantagem do banho quente no final do dia, o lugar seguro para guardar a bike( que às vezes é dentro do quarto) e o café quentinho e à vontade no início do dia seguinte.


Quanto aos custos da vaigem?

É muito menos do que se imagina: por exemplo em Camboriú fiquei num hotel com TV e banheiro no quarto mais café da manhã no dia seguinte por R$ 15,00. Em Paulo Lopes a diária foi de R$ 10,00.
Bem, depois desta decisão, fui para o mapa e comecei a dividir o trajeto em partes de 100, mais ou menos 20 km, sempre procurando terminar a jornada do dia em uma cidade que tivesse um hotel ou alguma coisa que mais se aproximasse disto para dormir e descansar.
Como faço seguido este trajeto de carro, eu me lembrava de cidades e postos de gasolina onde sabia que havia hotéis, isto ajudou. A divisão ficou boa, com paradas em cidades grandes e com apenas uma incógnita: Morro da Fumaça em SC, pois eu não lembrava se lá havia algum hotel.


A partir de agora os textos entre aspas serão anotações feitas durante a viagem:


"A saída foi adiada em um dia devido à chuva que não parava.
Como existia um limite de dias para fazer a viagem, no segundo dia de férias saí com chuva e tudo."


31/10/02 - Curitiba > Joinville

“Saída de casa 05h45 com chuvisco que me acompanhou até perto de Joinville, quando virou chuva. Muita água.
Às 15h15 estava no pórtico de entrada da cidade e 15h45 já no hotel tomando um banho quente. Gigi* chega às 21h30. Amanhã vou para Porto Belo ou Itapema. ”

*Gigi = Giovana, minha esposa foi até Joinville passar uma noite no Hotel comigo, porque ficaríamos 8 dias sem nos ver. Levou uma muda de roupa seca porque a roupa do primeiro dia de viagem ficou simplesmente impraticável. Ainda bem que Joinville tem Drive-thru do McDonald’s porque a única roupa quente que tinha, não dava para descer do carro.

“Foram 134,6 km em 07h50. A cada hora de pedalada parava para tomar água e alongar, 7 paradas. Fiz uma hora e meia de alongamento no hotel para evitar as dores.”


01/11/02 - Joinville > Bal. Camboriú

“ Chuva de novo. A Giovana me filmou e saiu do pórtico às 08h30. Eu alonguei, coloquei óleo na correia e saí 09h10. As pernas até que não doeram muito, mas o “assento” ta f... .
14h15 parei para lanchar um “Cheese” e comprar água. Já estou na metade do caminho de hoje. Como não ia dar tempo nem bunda para chegar em Porto Belo, fiquei em Bal. Camboriú, deu 98 km no dia, 50% na chuva.
A previsão para amanhã é sol. No trevo de entrada de Camboriú furou um pneu, na frente de uma borracharia. Que sorte! Fiquei no Hotel Camboriú, bem na entrada, muito bom. O café valeu a espera.”

02/11/02 – Bal. Camboriú > Paulo Lopes

“A ida até Floripa foi “DEZ”, com vento a favor e média de 19 km/h. Na segunda hora fiz 22 km. A dor no “assento” diminuiu, e o joelho parou de incomodar. Pedalei 4 h e parei para almoçar em Palhoça às 13h15. Era um Cheese Salada monstruoso de grande. Agora aprendi a não almoçar mais, só lanche. Se perde muito tempo comendo e fazendo a digestão. Andei mais uns quilômetros e acabou a pista dupla. Ficou mais radical que voar de parapente. Nas subidas os caminhões usam o acostamento que virou uma terceira pista e sobra uns 20 cm para andar com a bike. Nas pontes idem. O jeito é ir na contramão nestes casos.
Com o vento a favor tava muito fácil, fiz 122 km e parei no hotel que fica no Posto de Gasolina da entrada da Praia da Gamboa em Paulo Lopes.”


03/11/02 – Paulo Lopes > Criciúma

“ Saída do hotel “Xibungo”- (Xibungo = sem qualidade) 05h55, bem cedo depois de um café com pão velho. Sair cedo é bom porque além da estrada vazia é menos tempo pra passar protetor solar!
Hoje não almocei, rende mais. Só água, chocolate e Nutry. Na 5ª hora comi um sanduíche com 01 litro de Coca com limão e gelo. Já tinha feito 98 km e um cara me falou que em 13 km eu acharia um hotel. Mentira, tinha fechado. Tive que tocar até Criciúma, total 132 km e 7???de pedalada.
Uns 10 km antes de Criciúma iniciou a “pista dupla”, ou seja, eles asfaltaram o acostamento e todo mundo usa. Acho que é assim até Torres. Pura bosta, os caminhões passam encostados na bike. O jeito é ir pela contramão, pelo menos se enxerga o perigo.
No hotel vi que apareceu uma folga grande na roda traseira. Queria ir até Ararangá (+30 km) amanhã, mas não vai dar. Tá feio, terei que atrasar a saída e arrumar aqui em Criciúma. A caixa de centro também está fazendo barulho. Também!! Já foram quase 500 km, sendo que 230 km foram na chuva.”

A Patetada do dia:

“ na 3ª parada do dia, já ia parando e o celular começou a tocar. Abri a pochete que tava nas costas ainda andando e fui diminuindo e resolvi entrar no capim, onde tinha uma sombra. Tive uma capotagem sensacional, tinha um buraco escondido no capim que dava certinho o tamanho da roda. Quem viu aquilo deve ter dado muita risada. Depois de tudo, o celular ainda tocava e tive que procurar ele e todo o resto no meio do capim. Depois disso diminuí o volume do celular”




04/11/02 – Criciúma, SC – Torres,RS

“ O dia mais difícil até agora: Durante a noite teve um temporal, chegou uma frente fria que virou o vento. Depois de dois dias ajudando agora ele atrapalhou e com mais força. A média que era de quase 19 km/h caiu para 14 km/h. Marcha leve no plano por muitos quilômetros. Depois de duas horas parei em Araranguá para arrumar a bike, porque de manhã em Criciúma tava tudo fechado. Como passei em alguns lugares muito desertos, achei melhor comprar um pneu e um cabo de câmbio, porque talvez seriam as únicas coisas que poderiam me deixar na mão. Quanto mais perto de Torres mais forte o vento ficava. Tomara que amanhã diminua o vento porque virar para Norte já sei que não vira ( fonte: correspondente do tempo Gigi).
Finalmente entrei no RS. Tirei a foto tradicional na divisa, passei o Rio Mampituba e parei no primeiro hotel: Porteira do Rio Grande, na localidade de São João, antes de Torres.”


05/11/02 – Torres > Capão da Canoa

“ Durante a noite muita chuva e de manhã já estava mais fraca, mas continuava. A previsão era sol para todo o RS e chuva apenas no litoral. Entrei na estrada do mar e parei no primeiro mercadinho para comprar água e chocolates. Ainda bem porque nada mais estava aberto. Quando se anda de carro não se nota como as estradas são desertas. Pena que não tinha o Windmeter porque devia estar entre 30 a 40 km/h. Capão nunca chegava e o vento nunca parava. A dor no “sentador” me fez mudar de planos e descasar um dia em Capão da Canoa. Chegando lá encontrei a Dona Cleci ( minha sogra ) que me esperava com o café pronto. Que mordomia!”




06/11/02 – Capão da Canoa

Dia de descanso, tomar chimarrão, ler Zero Hora (... e descansar o “assento”). O vento hoje mudou para Leste e amanhã vai ajudar muito. Amanhã é Santo Antônio e Gravataí e no outro dia Montenegro. Desisti de ir à Porto Alegre para evitar o trânsito.

Iniciei a viagem e depois de 4 km recebi o aviso que meu Tio Edu havia falecido. Cancelei a viagem com 656 km.

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